David Paul Cronenberg, um expoente cineasta do horror corporal

Cronenberg é conhecido mundialmente por levar ao cinema uma curiosa representação dos mais diversos medos humanos por meio de transformações físicas horripilantes.

David Paul Cronenberg, um expoente cineasta do horror corporal

David CRONENBERG (réalisateur)Uma carreira sólida e prestigiada: Cronenberg startinghere71 via Compfight

David Paul Cronenberg, marcante cineasta e roteirista canadense, é conhecido mundialmente por levar ao cinema uma curiosa representação dos mais diversos medos humanos por meio de transformações físicas horripilantes e de tremendas infecções que atingem seus personagens para explorar radicalmente o horror corporal.

Ao longo de quase 40 anos conseguiu não só construir uma carreira sólida e prestigiada, mas também um percursso temático e estético tão contemporâneo como inovador, que pouco a pouco  chegou a definir-se com qualitativos de cine autônomo de grande densidade subjetiva, de caráter independente, produzido particularmente em seu país, desvinculado financeiramente da produção hollywoodiana e que resulta em uma intensa reflexão sobre aspectos da realidade e da subjetividade.

A brasileira Rosângela Medeiros, estudiosa da obra fílmica do cineasta, acredita que “ao optar por manter-se vivendo e produzindo no Canadá, Cronenberg faz do seu país seu lugar de enunciação e afirmação, que ele mesmo reconhece como sendo um entre-lugar, tendo por um lado a imponência da indústria cinematográfica dos Estados Unidos e, por outro, as utopias dos vários cinemas nacionais europeus” e acrescenta que “o cinema surgiu como uma nova maneira de expressar sua criatividade artística, sendo, como ele próprio declarou, uma maneira de integrar as duas partes primordiais de sua identidade, seus interesses pela ciência e pela literatura”.

A enfermidade como temática para desenvolver as tramas

Cronenberg utiliza principalmente a enfermidade como temática para desenvolver suas tramas que, por fim, levam os espectadores a uma grande interrogação ou exclamação, e assim mesmo demonstra como seres humanos são um objeto analítico repercutível e de imensa carga psicológica.

Para González-Fierro, biógrafo espanhol do cineasta, os principais elementos utilizados na sua filmografia seriam “el vírus y la enfermedad, la fusión entre carne y materia inorgánica, las metamorfosis físicas reproducidas a su vez en forma de alteraciones psicológicas, los personajes aislados y alienados que buscan por medio de la transformación un modo de recuperar su identidad, la inestable línea que separa la realidad de la alucinación y la subjetividad de lo aparentemente objetivo”.

É marcante sua “obsesión por lo desagradable”, por aquilo que desafia o espectador a repensar sua própria percepção do que é normal ou real, remodelando conceitos e perspectivas através de temáticas às vezes similares onde predomina o caráter de abstração, onde “la realidad objetiva y la subjetiva se confunden en la pantalla y Cronenberg obliga al espectador a sumergirse en un universo donde las leyes de lo normal aparecen subvertidas” para então chegar-se a um conflito intelectual, como se pode ver em Inseparables (1988) e Spider (2002), nas versões espanholas.

"La evanescencia de nuestras vidas..."

Para Cronenberg, o mais terrível do ser humano é “la evanescencia de nuestras vidas y la fragilidad de nuestro estado mental, por lo tanto, la fragilidad de la realidad que nos rodea”, e ainda que na percepção humana não existe nada mais que subjetividade, assim tudo é fruto do subjetivo, em que a construção do mesmo é derivada de condicionantes provenientes do mundo externo e do mundo criativo interno a cada um e, portanto, “sólo existe lo humano; la única tecnología es la tecnología humana”, assim declara em entrevista concedida ao jornalista espanhol Eduardo Punset, no programa Redes –Ciencia, terror y cine– transmitido na televisão espanhola em dezembro de 2002.

A entrevista é arrematada com o seguinte comentário do cineasta sobre o sentido da vida e seu caráter de  mutação: "entramos en la vida con muy poco tiempo para realmente poder comprender la enorme cantidad de información y, sin embargo, debemos tomar decisiones sobre la vida importantísimas para nosotros mismos con una información mínima. Quiero decir, la vida no funciona como un experimento científico en un laboratorio, donde se puede eliminar toda influencia externa, se puede uno concentrar en las dos o tres cosas en que está interesado y excluir todo lo demás. Por supuesto ahora nos encontramos con la teoría del caos, que da soluciones a lo que no es realmente exacto excepto en condiciones de laboratorio. En otras palabras: la vida es tan compleja, incluso para los científicos, que hasta la predicción meteorológica ha demostrado ser imposible. Algo tan simple como esto es imposible, debido a que son muchas las variables y están en cambio constante". @JULIANA_SPAIN

Comentarios