"Memórias do Caminho", relato breve e intimista respaldado pelas poesias de Lispector

"Memórias do Caminho" é um relato breve e intimista escrito em 2011 e respaldado pelas poesias da escritora brasileira Clarice Lispector, Charles Baudelaire e Hobbes.

"Memórias do Caminho", relato breve e intimista respaldado pelas poesias de Lispector

viejos campos de batalla │old battlefields

"Memórias do Caminho" é um relato breve e intimista escrito em 2011, respaldado pelas poesias da escritora brasileira Clarice Lispector, Charles Baudelaire e Hobbes. 

Com respaldo em poesias de Clarice Lispector, Baudelaire e Hobbes, em 2011 foi escrito o relato breve e intimista intitulado "Memórias do Caminho", que descreve, em tom autobiográfico, vivências e impressões íntimas desde a perspectiva de uma estrangeira em Espanha e em seu próprio país, em sentido metafórico, como já dizia em seus escritos a poetisa galega Rosalia de Castro. A seguir, pode-se ler algumas das poesias que integram este relato escrito pela brasileira Juliana Sá.

Espera

"Minha força está na solidão.

Não tenho medo

nem de chuvas tempestivas

nem de grandes ventanias soltas."

Clarice Lispector

Esperança.

Espera premeditada,

despida de certeza

me olhe no espelho

Não tenho medo

De encontrar-me

e perder-me

na lúcida razão

Pois a hora que está

é feto das outras

que por mim foram

escravas do perdão.

Proteção

"Mi madre ha concebido gemelos, yo y el miedo."

                                                                               

Hobbes

A calma que a dor negarevela a esperança no palco intuída

Acabou preenchendo meu espaço de canto e fundo

de modo que ainda me distrai.

Com valor.

Tempo de saudade

A saudade que vive em mim não me exige sensatez

O tempo passou por mim e levou minha alma refletida de querer

Nunca mais o azul do tempo sem porquê

Nunca mais você entregue ao meu ser

Mesmo que eu tente

Não saberei esquecer

Um dia quem sabe me perderei por ganhar

porque já cansei de perder

De acordar na chuva de névoa infinita

De saber que o medo é minha inútil amiga

Hoje não faz sentido

Nem criando

Nem mentindo

A solidão me segue sem tropeçar

Mas ainda vou

Sem destino

e fugindo.

El cisne negro

“Bañaba nerviosamente sus alas en el polvo,

Y decía, el corazón lleno de su bello lago natal:

"Agua, ¿Cuándo lloverás? ¿Cuándo tronarás, rayo?"

Yo veo este desdichado, mito extraño y fatal,Hacia el cielo algunas veces, como el hombre de Ovidio,

Hacia el cielo irónico y cruelmente azul,

Sobre su cuello convulsivo tender su cabeza ávida,

¡Como si dirigiera reproches a Dios!”

Baudelaire

 

Tenentes sem máscara ressurgentes,

fugi dos porões insalubres

da discórdia

dos raios triangulares dum telhado

queimado

fugi de mim e do agora tempo

da angústia de não pertencer a qualquer um

do medo de seguir refratando olhos

sem poder saber desse tempo

sem poder medir

o temperamento

sem encontrar rastros distraída

com alento inventado

no bosque oscuro

do silêncio.

Vício

A vida e seus pedaços de norte,

tão alheios à sorte,

invenção para esquecer do corte,

sem horizonte,

com seus herdeiros

Mas quem poderá acolher a dor que se enamorou?

Tudo gira num colapso imperceptível,

não quero ser tudo,

mas quero o seu vazio

O cansaço alimenta, a solidão te faz ver mais além

e a verdade só existe no meu espaço de permanência!

Não sei onde me refugio

nesse lugar que não é meu

Preciso ouvir os nãos da vida,

diluir-me e regressar deles,

sabendo viver mais,

nas curvas e nos leitos

Nada mais é que um sono esvaecido

do imenso saber reconhecer-me.

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